LIVRO
DE RUTE E O RANÇO RELIGIOSO DA NOEMI
PR. Érico Rodolpho Bussinger
Eu creio que “tudo que foi escrito o foi para nosso ensino” (Rm15:4), e entendo que a história de Rute está inserida na Bíblia para que tiremos lições aplicáveis a nós cristãos nos dias atuais.
Há uma religiosidade má entranhada no
coração do ser humano, que o apóstolo Paulo chamou de “espírito
supersticioso”(At.17:22). Eu chamaria isso de “ranço religioso”, aquele cheiro ruim de religiosidade que
transmite intolerância, levanta barreiras, não tem nada de amor e espanta as
pessoas. Eu creio que esse “ranço”, fruto de uma acomodação religiosa até dos
melhores crentes, é o responsável pela estagnação do avanço do Evangelho.
Quando se institucionaliza a religião, quando as pessoas são ali encaixadas e
se acomodam, isso cria um ambiente religioso formal, envolvente e aprisionador.
Esse ambiente religioso não dá liberdade
às pessoas, mas pelo contrário, as vigia e escraviza. Seus fiéis se
desenvolvem no fundamentalismo (da sua doutrina) e passam a se sentir “donos da
verdade”. Construindo um arcabouço
doutrinário, que vai sendo conformado com o tempo, para que seja coerente em si
mesmo, obriga os seus fiéis a se escravizarem a ele e lhes promove uma lavagem cerebral afirmando que aquilo é a “reta
verdade”. O fanatismo está comumente ligado a esse ambiente religioso. E a
imagem que essa “religião” transmite é o que chamo de “ranço religioso”, que
consegue convencer a alguns, mas espanta com ódio a esmagadora maioria dos
demais.
Não foi por coincidência que o Mestre
fugiu desse ambiente religioso o quanto pôde. Mas ao final, para se cumprirem as Escrituras, foi
entregue a esse mesmo ambiente religioso, que terminou por crucificá-lo.
O judaísmo é um bom exemplo desse espírito religioso que acabou gerando uma religião exatamente ao contrário do que Deus queria (Ex.19:6). O cristianismo formal (pós Constantino) aproveitou esse ranço do judaísmo e até o exacerbou. O islamismo, que veio depois, fez desse ranço a mola mestra para a prática da violência, na conquista do poder. O protestantismo da Reforma seguiu o modelo rançoso. Modernamente, religiões como os Mórmons e Testemunhas de Jeová não são diferentes. E o pior é que os evangélicos também, apesar de pregarem outra coisa, acabam também praticando uma religiosidade rançosa e intolerante, inclusive aos de outras “denominações”.
No
livro de Rute ganha destaque a Noemi, religiosa rançosa, que conhecia
bastante os fundamentos da sua religião, mas não absorveu a essência do
mandamento mais importante: “Adorar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo”(Mt.22:36-40). Provavelmente foi ela que incitou o marido
Elimeleque a buscar, por interesses próprios, outro país e outra terra que não
aquela onde Deus os tinha colocado. Após o juízo de Deus, ela queria “se
livrar” das noras, então peso incômodo para ela. Quando retornou a Judá, seus
olhos foram postos nas coisas materiais. E a partir daí, passou a querer usar a
Rute para atingir seus propósitos. Foi ela quem “empurrou” a Rute para cima do
Boaz. Tudo o que Noemi fez foi sempre
por interesse próprio.
Eu creio que o nosso meio evangélico (que é o que nós conhecemos) gerou em nossos dias um ranço tal que leva a maioria de nossos fiéis a uma soberba de se acharem os mais certos, a um desprezo dos outros irmãos, a uma intolerância quanto aos de fora e uma barreira impedindo o evangelizar. No meu entender, esse ranço religioso anda de mãos dadas com a mornidão. Repare como as “grandes” e muito bem organizadas igrejas conseguem atrair pessoas com essas características. Em geral eles são antigos no Evangelho, conhecem a Bíblia, embora não a pratiquem, são egoístas, na maioria avarentos, não evangelizam, não têm amor aos demais irmãos, muito menos aos de outras denominações, não dão frutos, mas são exigentes. E no fim constróem uma denominação como eles, também com essas características. É uma geração de Noemis.
Eu creio que estamos vivendo a época da
igreja de Laodicéia, aqueles que não eram frios nem quentes e que, por isso,
estavam a ponto de serem vomitados da boca do Senhor (Ap.3:16).
As exortações que o Senhor deixa para nós nas Escrituras, e que devem se multiplicar, à medida que se aproxima a volta dele (Hb.10:25), vão todas na direção de deixarmos esse sistema religioso (Ap.18:14, 2Tm.2:19), para não sermos cúmplices em seus pecados. Sim, o ranço religioso é pecado e leva a outros pecados conseqüentes. Portanto, não há outra forma de agir. Fuja das fôrmas religiosas. Não adianta combater (veja Lutero), não se pode reformá-lo e ele não muda. O ranço religioso não tem amor, não tem nada de Deus, mas vai se fortalecer até apoiar o “falso profeta”, a besta “religiosa” que apoiará o anti-Cristo.
Deus vai dirigir todo cristão verdadeiro para
onde deve congregar, o que deve praticar, como amar, evangelizar, como adorar e
cultuar. Mas com certeza, longe de todas as fontes de ranço religioso chamadas
cristãs.
Fuja do ranço religioso você também. Deixe
de ser uma Noemi !
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