Espiritismo e Cristianismo
Eduardo Soveral Torres Porto – Portugal - Agosto 2021
O Espiritismo propõe-se construir uma doutrina que concilie o conhecimento humano com as informações
colhidas do reino dos mortos. Assumindo-se como marcadamente anti-materialista, entendendo o
materialismo como a concepção que apenas reconhece a validade do conhecimento obtido através dos
sentidos, isto é o que pode ser observável e comprovado.
Assim o espiritismo seria uma doutrina abrangente dando uma perspectiva mais real e verdadeira da vida,
pois abarcaria não só a presente existência mas também a existência futura. De alguma forma ela
preencheria o vazio deixado pela ciência.
O que diz então a doutrina espírita?
Ela assenta no seguinte conjunto de afirmações:
1- Há uma sequência – nascimento – morte – vida após a morte – reencarnação.
2- O segundo ponto é a possibilidade de comunicação com os espíritos mortos com o intuito de
conhecer esse lado da vida
3- Depois há a construção da sua moral e para isso o espiritismo apropria-se do que ele entende ser
a moral cristã.
4- Com estes pilares o espiritismo constrói uma explicação para a diversidade de experiências
humanas, dizendo que as mesmas resultam do progresso conseguido pelas almas na sua
peregrinação por várias vidas.
5- Do cristianismo donde tira a moral, ele repudia a divindade de Jesus, a pessoalidade do Espírito
Santo (substituído por um colectivo de espíritos superiores) o Juízo final e as suas consequências:
a separação para a eternidade entre escolhidos e rejeitados, atirados para locais distintos –
inferno e Paraíso – onde permaneceriam eternamente. Em alternativa o espiritismo escolhe a
reencarnação como a solução para a recuperação dos pecadores de modo a que todos no fim
fossem salvos
6- Como corolário de tudo isto o espiritismo visa a melhoria da humanidade e a passagem dos
melhores para mundos mais adiantados onde desfrutariam da felicidade merecida. Há assim
para ele não só diversas vidas como diversos mundos que estariam preparados para os diversos
estágios de desenvolvimento das almas.
7- Como negam o castigo eterno também não aceitam a existência de Satanás e dos espíritos
malignos. Isto também os distingue do cristianismo, pois eles apenas aceitam espíritos inferiores
e pouco desenvolvidos que embora fazendo o mal no presente podem ser recuperados para o
bem no futuro.
Céu, Inferno, Penas e Prémios
Para o espiritismo não existe Céu nem Inferno. Em vez do Céu ou Paraíso existem diversos mundos
adaptados à evolução espiritual de cada um. Assim o espírito estaria limitado a um determinado mundo
que corresponderia ao seu desenvolvimento espiritual.
O Inferno também não existe como local onde permaneceriam os condenados. O inferno seria segundo
Kardec o estado de infelicidade em que o espírito inferior se encontra como resultado do seu mau
comportamento.
Estas concepções resultam do facto de que o espiritismo não aceita um julgamento final que determina
o futuro dos espíritos, pois ele defende que Deus na Sua justiça teria de permitir novas oportunidades a
cada um de se aperfeiçoar até ser merecedor do estado de felicidade eterno. Esta afirmação implica que
como a oportunidade estaria na posse do homem seria este e não Deus a determinar o futuro.
Nesta concepção espírita que diverge acentuadamente do cristianismo (que o espiritismo diz seguir) onde
existe um Juízo Final onde todos serão julgados e onde é traçado o destino de cada um, há aspectos que
mereceriam explicação e que aparentemente ela não é dada.
O ser humano morre. Num primeiro momento há como
que uma perplexidade com o novo estado, sendo que a
duração desta “surpresa” depende do conhecimento e
entendimento que o ser teve durante a sua vida. Assim
há quem demore a aceitar a sua nova condição
apegando-se ao local e pessoas com quem vivia e os que
conhecendo a nova situação se desligam com mais
facilidade do que deixaram para trás. Uma vez ciente da
sua nova condição o espírito é sujeito a um julgamento
do que fez durante a sua vida. Esse julgamento
determinará não só o estado em que permanecerá como
o destino da nova reencarnação.
Mas quem julga?
Diz Kardec: “O esquecimento do ocorrido em vidas
passadas só ocorre quando o homem reencarna. Uma vez
liberto do invólucro corporal, ele recupera a lembrança do
seu passado; ele pode julgar então o caminho que fez e o
que ainda lhe resta fazer.”
É bem claro que o julgamento é feito pelo próprio acerca
de si mesmo, o que convenhamos não garante uma
sentença justa. O próprio Kardec assume que o espírito
quando morre leva consigo todo o conjunto de emoções
e conhecimentos adquiridos nesta vida. Como pode tal
ser, ter um julgamento isento sobre si próprio? A
benevolência seria a marca de tal julgamento. Poucas
pessoas fariam de si um juízo isento.
Diz Kardec: “As penas não são iguais, mas variam
consoante a natureza e grau das faltas cometidas e são
quase sempre punições semelhantes à falta cometida.
Assim um assassino seria obrigado a permanecer no local
em que cometeu o crime e ver as suas vítimas diante
dele.”
Também é difícil aceitar esta punição como a correcta,
pois a simples lembrança do acto praticado não
constituiu por si uma punição, pois isso já acontece na
vida de cada ser humano a que se dá o nome – caso haja
dor – de remorso. Mas há pessoas que não sentem
qualquer remorso e por isso a lembrança não as pune
nem modifica. Caso contrário como explicar os assassinos
profissionais?
Uma vez determinada a sentença o espírito viverá no
ambiente condizente com o que tiver sido determinado.
Não é difícil compreender que o lugar dos espíritos
inferiores seja diferente do dos espíritos superiores.
E continua Kardec: “…O esquecimento temporário é uma
benesse da Providência; a experiência é muitas vezes
adquirida por provas rudes e expiações terríveis, cuja
lembrança seria muito penosa e se viria a juntar às
dificuldades da vida presente”.
O Purgatório
Uma das facções do cristianismo – a católica –
inclui na vida após a morte a possibilidade de
um purgatório onde os espíritos que tendo
encetado nesta vida uma obediência a Deus
não tenham “terminado esse caminho”.
Seria como uma segunda oportunidade,
baseada no sofrimento, mas não
necessariamente no arrependimento.
Nada nas palavras bíblicas ou evangélicas
fundamenta este entendimento.
Mas esta teologia católica merece várias
críticas: Antes de mais procura elaborar
doutrina sobre algo de que não tem
conhecimento divino. Jesus Cristo completou o
conhecimento sobre o Além não sendo
permitido acrescentar seja o que for. O que
poderemos elaborar é entendimentos sobre o
que foi dito. E o purgatório é claramente uma
inovação ilícita.
Como só vão para o Purgatório os imperfeitos
estando isentos os perfeitos há necessidade de
um julgamento prévio de cada um feito…na
Terra, o que contraria as palavras de Jesus que
nos proibiu qualquer julgamento.
Depois porque ninguém consegue ser perfeito
por si mesmo dado o que nos é exigido. E daí a
necessidade da Graça que colmata o que nos
falta. É o acompanhamento pelo Espírito Santo
que nos é dado para suprir as nossas
deficiências. O crente “apenas” tem de se
apegar a Jesus com todas as suas forças pela
fé (incluindo-se aqui a obediência à Palavra) e
tudo o mais acontecerá.
Assim se compreende que o ladrão da cruz
tenha sido absolvido “in extremis” embora com
certeza imperfeito. E Jesus não lhe prometeu o
purgatório mas o Paraíso.
O Purgatório não tem assim base evangélica,
nem provém de informação divina. É uma
construção humana que talvez beneficie
algumas práticas religiosas mas sem
fundamento em Deus.
Sabemos pela prática católica que os diversos
comércios que ela exerceu com os bens
espirituais – venda de indulgências, cobrança
pela ministração de sacramentos como
baptizados, casamentos, missas pelos mortos
etc. – tem-lhe granjeado proveitos que lhe
permitiram erigir um império que a destaca no
mundo dos homens (quanto ao outro, Deus
julgará).
O desvio da Verdade que ela escolheu –
embora infelizmente não seja a única – talvez
origine o estado de coisas predito por Jesus:
“Quando eu voltar por acaso encontrarei fé?”
( Lucas 18:8)
Como se depreende facilmente este esquecimento da existência passada que ocorre na reencarnação e
que volta quando em espírito, é conveniente à doutrina espírita, pois serve para “explicar” o porquê de
ninguém se lembrar de existências passadas. Kardec diz que esse mecanismo é para aliviar a pessoa
quando reencarnada de más lembranças de vidas anteriores que a fariam sofrer.
Outro problema do espiritismo é a explicação da existência do Mal. Como eles não aceitam a existência
de Satanás – figura meramente simbólica mas sem existência real – donde provem o Mal? Kardec diz que
o mal nasce da desobediência do homem às leis de Deus; se é certo que o homem alimenta o Mal com a
sua desobediência já não é possível dizer que essa desobediência cria o mal; a desobediência sendo um
exercício do livre arbítrio nada cria mas apenas escolhe. E logicamente só pode escolher entre o que
existe, pelo que o Mal já tem de existir antes da desobediência.
Devemos levar sempre em conta que os fundamentos da doutrina espírita radicam na informação dos
espíritos e no raciocínio humano. Ambos falíveis e sempre carentes de comprovação. Sujeitos mesmo a
evolução, pois lá tudo é progressivo.
O antagonismo com o cristianismo é evidente. Neste a morte leva o espírito para uma nova realidade
onde espera pelo juízo final num tribunal presidido por Jesus Cristo no fim dos Tempos. Enquanto se
espera pelo juízo final as almas estarão em situação diferente de acordo com a vida que tiverem levado.
Haverá então separação entre os que tiverem praticado o bem e os que tiverem escolhido o mal. O que
no cristianismo separa o Bem do Mal é a obediência a Deus sobretudo ao que Jesus disse e fez na Terra.
Como todo o conjunto de vivências acompanham o ser que morre, ele sofre ou beneficia no Além do
ambiente que os seus actos houverem criado nesta vida.
Dito de outro modo os do lado do Bem terão a paz e o descanso que as suas acções merecem; pelo
contrário os do lado do Mal continuarão a sofrer de um estado de infelicidade consequente do mal feito.
Como Deus avisara os homens “os perversos não terão paz” – nem no outro mundo. No mesmo sentido
Jesus anunciara aos seus discípulos uma Paz que acompanharia os eleitos. A Paz que eles merecem nesta
vida acompanha-os no Além.
No cristianismo não há reencarnação, mas há vida, pois como Jesus disse “para Deus todos vivem”. (Lucas
20:38)
O espiritismo na sua ânsia de se envolver com o cristianismo procura “provar” a existência de
reencarnação no texto bíblico mas sem sucesso pois não existe. O único exemplo a que se agarram e que
poder deixar alguma dúvida é o caso de João Baptista que teria sido um Elias redivivo.
Jesus que confirma a profecia não diz que João e Elias são o mesmo espírito, mas sim que João tem
semelhanças com Elias pois vem “no poder e no espírito de Elias” (Lucas 1:17). Portanto não se trata da
mesma pessoa mas sim de duas pessoas com alguma semelhança na sua manifestação terrena. Ora na
reencarnação nunca há semelhança entre as duas existências que aliás teriam por definição de ser
diferentes: ou porque o espírito teria evoluído o que determinaria uma existência posterior melhor ou
porque não tendo reparado todos os erros cometidos necessitaria de estacionar nas mesmas experiências
até as saber superar.
A Fé
Allan Kardec considera que a fé tem de ser consistente com a razão. Diz ele: “Não há fé inabalável senão
a que pode encarar face a face a razão em todas as épocas da humanidade. A fé necessita de uma base,
é a inteligência perfeita daquilo em que se deve crer; para crer não basta ver é preciso sobretudo
compreender. A fé cega não é mais deste século… porque ela quer se impor e porque exige a abdicação de
uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio”
Contrariamente ao que diz Kardec a fé preenche o vazio deixado pela razão. A fé vai para além da razão e
prescinde dela. O que acontece é que por vezes para explicarmos a nossa fé usamos argumentos racionais.
A razão pode sustentar a fé, tentar explicá-la mas nunca balizá-la. Quando Jesus andou sobre as águas e
chamou Pedro para o acompanhar Pedro não usou a razão pois esta dir-lhe-ia que o que via era
impossível. Pela razão ele nunca abandonaria o barco, mas por fé saiu e andou sobre as águas. Conta o
evangelho que depois Pedro teve medo, a dúvida assaltou o seu espírito e começou a afundar. Fez
exactamente o que Kardec aconselha: a razão tentou avaliar a fé.
Foi pela fé que inúmeras testemunhas cristãs ao longo da história deram a sua vida, coisa que a razão
nunca aconselharia. Foi pela fé que Abraão obedecendo a Deus foi oferecer o seu filho Isaac em
holocausto. Toda a razão, toda a sabedoria e conhecimento humano não o aconselhariam.
Uma fé que move montanhas é por definição contrária a qualquer razão e no entanto Jesus Cristo
anunciou-a.
Penso que Kardec confunde convicção com fé. A convicção nasce da razão e sustenta-se por ela. Kardec
com os olhos demasiadamente ocupados na vida da terra, entendeu a fé como era divulgada pela igreja
do seu tempo, que por diversas vezes usava o argumento da fé para vergar a vontade dos seus seguidores.
À mínima desobediência às suas ordens as igrejas brandem o argumento da fé. Essas igrejas assumem-se
como representantes de Deus na Terra e como não dispõem de poderes espirituais que o comprovem
procuram pela palavra assustar os crentes para conseguirem a sua submissão. Para isso a igreja cria uma
doutrina cujos intuitos são o domínio dos crentes e o uso dos mesmos para os seus interesses, e “carimbaa” como artigo de fé. Fé deixa de ser para a igreja (católica e não só) a fé em Deus requerida por Jesus
para ser a crença na infalibilidade da igreja. As distorções criadas por esta deriva doutrinária causaram
muitos problemas e iniquidades no seio do ambiente religioso. E foi isto que suponho Kardec quis
combater usando a razão. Mas se isso for verdade então deve-se concluir que Kardec nunca soube o que
era a fé, nem nunca teve fé em Deus.
A comunicação com os espíritos
O pilar principal do espiritismo e que o distingue é a comunicação com os seres mortos. Segundo a
doutrina espírita tal comunicação é possível embora sujeita a requisitos: haver um médium, e
disponibilidade de um espírito para “conversar”.
Para o espiritismo o homem é composto do corpo físico, da alma e do espírito. Quando o espírito
abandona o corpo passa para outro estágio acompanhado da alma e envolto em algo que ele designa de
perispírito, como uma espécie de corpo fluídico, diáfano e invisível. Este é o meio pelo qual os espíritos
comunicam com os médiuns que como todo o ser humano também possuem esse perispírito.
Como reconhecer o espírito que se apresenta numa sessão espírita? Normalmente é o próprio espírito
que se identifica. Mas o mesmo espiritismo adverte que o espírito inferior muitas vezes mente acerca da
sua identidade e imiscui-se nas sessões espíritas com o intuito de perturbar e enganar os presentes. Por
isso o primeiro trabalho do médium é procurar distinguir o espírito que se lhe apresenta. Por aqui se vê a
base movediça em que assenta o espiritismo, pois tudo depende de avaliação humana que não pode ser
comprovada, mas que apenas se deduz do que vai acontecendo.
Mas o próprio Kardec assume que mesmo espíritos superiores que sempre aparecem com bons intuitos
– ao contrário dos inferiores – podem assumir outra identidade que não a própria. Só que Kardec não
explica como é que o médium consegue descobrir que o espírito superior que lhe aparece é outro que
não aquele que diz ser. Kardec alega que o espírito superior usa desse estratagema para facilitar a vida ao
médium assumindo a identidade de um espírito que ele já conheça. Mas se levarmos em conta a
veracidade de todo o processo não fica tudo muito comprometido? Porque é que espírito se disfarça e
não se assume com a sua verdadeira identidade embora desconhecida da pessoa com quem fala?
Outra nota curiosa nestas comunicações espíritas é que as mesmas usam diversos meios mas nunca a voz.
Ou através da movimentação de mesas, ou conforme dizem pela utilização do médium para escrever a
mensagem ditada, mas nunca através de uma voz audível.
O conteúdo da mensagem transmitida está de harmonia com a qualidade espiritual do espírito
comunicador. Enquanto o médium deve afastar espíritos que apenas se querem divertir ou perturbar a
sessão espírita, deve acolher os que pela sua superioridade espiritual possam trazer informações ou
conselhos úteis. O grande problema está na fiabilidade da informação. Um espírito superior deveria ser
digno de toda a confiança, mas parece que nem sempre isso acontece pois é preciso estar sempre alerta
sobre o teor da comunicação e a identidade de quem comunica.
Kardec também nos informa que o espírito superior apenas diz o que quer e não é condicionado pelo que
lhe perguntam. Este ponto pode tornar a comunicação desinteressante, pois por princípio a consulta visa
receber informação que seja útil para quem a recebe. Kardec escuda-se no facto de o espírito ao não
responder o faz ou porque não sabe ou porque entende não poder revelar o que sabe. O facto de não
saber já é uma grande informação pois confirma que os espíritos são limitados no seu conhecimento. O
que nos indica também que a informação que dão também está limitada pelo que o espírito conhece. O
que não nos tranquiliza muito.
Por outro lado o facto de omitir alguma informação leva-nos a perguntar o porquê. Que haverá de tão
secreto que apenas se possa saber no domínio dos espíritos que os humanos não possam saber?
Acontecimentos futuros? Não o serão porque os espíritos não têm acesso ao futuro como não o têm os
humanos. Kardec levanta a ponta do véu: é para não facilitar a vida a humanos preguiçosos que terão de
se esforçar por obtê-lo na terra. Isto revela outra pedra basilar da doutrina espírita: o mérito. Nada se
consegue sem mérito nem é justo que se consiga. O determinismo espírita diz: toda a má acção será
punida e recompensada a boa. Não se pode sair disto.
Mais uma diferença em relação ao cristianismo em que a Graça e o perdão são pedras angulares. O perdão
que foi exercido por Jesus em inúmeros episódios que é divino também nos é exigido na relação com o
nosso próximo. E o perdão dissolve o mérito.
O perdão é justo: o divino porque atende à fraqueza humana por si só incapaz de fazer o bem; o humano
porque é a justa compensação dos nossos erros perdoados.
A fragilidade deste método de obter informações está nas próprias palavras de Kardec: “Há no mundo dos
espíritos a mesma diversidade de ideias, conceitos, opiniões e mentalidades que existem na Terra; eles
transportam consigo a sua cultura adquirida na Terra; daí o cuidado de examinar o conselho que um
espírito dê sobre algum assunto terreno”
E mais adiante: “Quanto aos espíritos esclarecidos eles ensinam-nos muito, porém no limite das coisas
possíveis, e não convém perguntar-lhes o que não podem ou não devem revelar; é preciso que nos
contentemos com o que nos dizem; querer ir além disso, é expormo-nos às mistificações dos espíritos
levianos sempre pronto a responder a tudo. A experiência ensina-nos a julgar o grau de confiança que lhes
podemos conceder”.
Como se vê muito respeitinho e contenção não vá tudo resvalar para o torto.
Como encara o cristianismo a comunicação com o Além?
No Antigo Testamento, Moisés estabelece uma pena capital - para quem consultar mortos - por ordem
do próprio Deus. (Levítico 20:27)
Mas temos de reconhecer que ao longo de toda a bíblia há inúmeros contactos e comunicações com
espíritos mas que não são de carácter mediúnico pois são protagonizados por anjos que trariam uma
comunicação do próprio Deus. Mencionando apenas o Novo Testamento é assim que Zacarias sabe do
nascimento de João Baptista, que Maria sabe do nascimento de Jesus, que as mulheres (Mª Madalena e
outras Marias) no sepulcro sabem da ressurreição de Jesus, etc. Também é através de anjos que Pedro é
liberto da prisão. (Actos 12:9) Estas comunicações distinguem-se sempre pelo facto de o contacto além de
visual ser audível: o espírito fala com o ser humano o que não acontece com o médium (pelo menos nas
experiências referidas do Kardec)
Outra comunicação espiritual revelada no Novo Testamento está no aparecimento de Jesus a Paulo às
portas de Damasco. (Actos 9:4) Jesus fala com Paulo e as palavras são ouvidas pelos seus companheiros
de viagem. (Actos 9:7) Também nas diversas aparições de Jesus a Paulo, há palavras de conforto e
encorajamento. Portanto o espírito fala.
No relato dos evangelhos mais do que uma vez é audível uma voz quando Jesus está presente com outras
pessoas e todas ouvem “Este é o meu filho amado a ele ouvi” (Marcos 9:7)
No episódio da Transfiguração de Jesus quando ele manifesta a 3 discípulos a sua majestade divina é
relatado que Jesus fala com Elias e Moisés e a conversa é também ouvida pelos discípulos. (Mateus 17:3-
5)
Não vale a pena ir ao Antigo Testamento para referir comunicações frequentes e sempre semelhantes.
Jesus já afirmara que para Deus todos vivem, estejam em corpo físico ou não.
Por isso esta comunicação não pode servir de base ao espiritismo pois nem
é feita através de médiuns e tem sempre iniciativa em Deus. Nenhum dos
casos revela que algum humano tenha chamado um espírito para que lhe
aparecesse e com ele dialogasse. A iniciativa é sempre divina. Só Deus
saberá quando essa manifestação é necessária e conveniente.
Outra manifestação espiritual que acompanha o cristianismo é a prometida
por Jesus: o Espírito Santo. Ele é apresentado como um auxiliador com a
função de amparar proteger, ensinar e guiar os seguidores de Jesus. (João
14:26) É um ente tão sublime e importante que o próprio Jesus nos
informou que qualquer blasfémia proferida contra o Espírito nunca teria
perdão, nem neste mundo nem no porvir. (Marcos 3:29)
O Espírito Santo tem uma manifestação toda própria e diversa das atrás
mencionadas dos anjos. Ele não é visível (o que ocorria com os anjos) e actua
essencialmente pelo pensamento. É o ES que anuncia a Pedro que enviou
gente da parte do centurião Cornélio para o chamar, (Actos 10:19) é o
mesmo Espírito que anuncia a Paulo a ocorrência de “cadeias e tribulações”
no seu futuro (Actos 20:23). Nunca se diz que há uma voz audível, mas há
informação que chega ao destinatário através do pensamento.
No mesmo sentido Jesus afirmara que o mesmo ES ensinaria os seus
seguidores como responder quando questionados pelo mundo. (Marcos
13:11) Ora intui-se que esta comunicação é concedida através do
pensamento. O pensamento recebe a resposta que depois a boca profere.
Para encanto dos espíritas há apenas um caso relatado na Bíblia em que há
o recurso a uma médium e portanto, nos moldes descritos pelo espiritismo.
É o caso de 1ºSamuel 28. O que é pouco para fundamentar a defesa do
espiritismo das sessões espíritas.
O que se relata em 1º Samuel 28? É um episódio protagonizado por Saúl rei
de Israel. O profeta Samuel já tinha morrido. Saúl normalmente socorria-se
do conselho desse profeta quando precisava de orientação. Saúl
encontrava-se rodeado pelo exército filisteu que se preparava para o atacar.
Atemorizado com a dimensão do adversário procura em desespero o
conselho de alguém. É assim que consulta uma médium, que a pedido de
Saúl chama o espírito de Samuel. A visão que a médium tem de Samuel
assusta-a pois vê um ser envolto em grande luz, que lhe faz parecer um
deus. É estabelecido então um diálogo entre o espírito de Samuel e Saúl
(que não é mencionado se directamente ou através da médium). Samuel
revela a Saúl o desastre militar que o espera levando-o a ele e aos filhos para
a morte. Saúl fica bastante combalido com a revelação e vai-se embora.
Este episódio que é desvalorizado por alguns ramos cristãos que o tentam
negar, dizendo que tal não ocorreu e que quem aparece nestas sessões
espíritas são demónios que se substituem às pessoas que dizem
representar. É uma atitude muito comum em todos os que sofrem o duro
revés de ver a realidade desmentir as suas convicções. E mais uma vez o seu
argumento é que tendo em consideração a proibição de Deus Ele não o
permitiria. Como fazia Kardec quando não se tem argumentos para
sustentar o que se defende recorre-se a Deus, atribuindo-lhe desígnios, por
iniciativa própria.
Mas ao contrário do que dizem o que nos indica a proibição de Deus é que
tal é possível; e que a proibição de Deus não impede o homem de errar, pois
caso contrário ninguém pecaria. Como curiosidade acrescente-se que são as
mesmas facções cristãs as que afirmam que tudo o que a Bíblia diz é sagrado
e intocável.
Uma Experiência Pessoal
Em tempos antes da minha mudança para o
Brasil, e em época em que o meu cristianismo
padecia de conhecimento e desenvolvimento,
crente como os demais que qualquer morto
teria conhecimento do futuro, fui a uma sessão
espírita.
A médium era uma amiga da minha mãe que
me acompanhou. Na sessão participaram 4
pessoas que além de nós os dois e da médium
tinha uma amiga da mesma. Na sessão era
usada uma mesa tripé, que permitia a resposta
dos espíritos pelo toque de cada pé conforme o
que fora estabelecido. Foi uma sessão do ponto
de vista dos defensores do espiritismo
dramática pela algazarra e brincadeira que
vários espíritos promoveram. Seriam segundo
Kardec espíritos inferiores. Na mesma
classificação seria uma sessão que revelaria
um mau médium, pelos espíritos que atraía. De
qualquer modo para mim não foi de todo inútil
pelo que a seguir ocorreu.
A mesa movimentava-se consoante o espírito
que se apresentava, muitos nem se
identificando, e o testemunho que dou é que ela
não era movida pela força de nenhum dos
presentes pois chegava a surpreender pelos
movimentos que fazia.
Num momento de acalmia estando todos
sentados à mesa, à espera do que ocorreria a
seguir, isto é quem se apresentaria, a mesa
move-se lentamente inclinando-se na minha
direcção. A médium pergunta quem era que ali
estava. E o espírito identificou-se como o meu
pai, que tinha morrido cerca de 2 anos antes. A
minha mãe empalideceu, pois dada a sua
constituição psicológica, estes ambientes
impressionavam-na bastante. Ainda mais
quando o espírito presente era o do marido.
Nada foi dito de interessante nem nenhuma
informação reveladora foi dada. A não ser o de
ele ter dito que queria que lhe acendessem uma
vela, pois queria luz. Isso na altura sugeriu-me
que o ambiente em que ele estaria não seria o
mais luminoso e portanto o melhor.
Este relato que recordo passados muitos anos,
mas que ficou bem gravado na minha memória,
não me deixou dúvidas acerca da comunicação
com os mortos. Nunca mais repeti a
experiência, acima de tudo porque o meu
ingresso no cristianismo disso me afastaria.
Nem procuro mais repetir tal experiência,
embora reconheça que são reais. A minha
obediência a Deus disso me afasta.
Mas além da informação mais pessoal e familiar
o resto do que vi deixou-me a firme convicção
de que a irreverência, a infantilidade e a
vulgaridade existem nos dois mundos e os
espíritos de pessoas mortas não são melhores
do que quando elas estavam vivas, nem
possuem mais conhecimentos do que aqui
possuíam.
Que concluir disto? Neste episódio o que me estranha é o aparecimento de Samuel, pois como qualquer
espírito tinha a opção de não aparecer. E sinto dificuldade em entender como Samuel conhecendo a
proibição de Deus, se prestou a este esclarecimento a Saúl. E até pode levantar a pergunta se no outro
mundo os espíritos podem pecar. Pois se o espírito só aparece porque quer, é porque mantém a vontade
e livre decisão que na Terra tinha. Assim sendo é porque é responsável pelos seus actos.
Tudo isto leva a questões para as quais não tenho resposta. A informação disponível no evangelho e
outros livros que reputo como as mais credíveis, nada refere a respeito.
Uma coisa é certa: a consulta ocorreu e a informação dada a Saúl por Samuel concretizou-se, pois Saúl
perdeu a batalha morrendo com os seus filhos na mesma.
A punição com a morte de tal prática resulta a meu ver da ofensa de que Deus é objecto pelo Seu servo
que em vez se dirigir a Ele prefere um oráculo enganoso. A possibilidade de consulta do próprio Deus é
que fundamente tão grave punição.
A reencarnação
De todos os alicerces do espiritismo, este é talvez o mais frágil e questionável.
A necessidade da reencarnação aparece na lógica espírita como a consequência que eles tiram da justiça
de Deus, considerando que esta implica essa solução.
Diz Kardec: “Um espírito encarna num meio que lhes é simpático e que esteja em relação com o seu grau
de adiantamento. Um chinês, por exemplo, que progrediu suficientemente, e não acha na sua raça um
meio que corresponda ao grau que atingiu, encarnará num povo mais avançado. Portanto uma nação
avança pela atracção que exerce sobre os melhores espíritos para que eles encarnem no seu meio”.
Pelo que nos diz Kardec quem decide da reencarnação, onde se efectuará e quando acontecerá é o próprio
espírito. Esta autonomia e poder decisório dado a qualquer espírito contraria toda a ideia de justiça que
dizem fundamentar a reencarnação.
Para além da opinião que tinha dos chineses Kardec confere a cada espírito um poder que ele não tem
quando encarnado, e não explica porquê. Também não resolve questões que se podem colocar acerca da
oportunidade da reencarnação. Esta depende da taxa de natalidade da região ou país onde se pretende
reencarnar. Diria mesmo até da própria família. E se a taxa de natalidade da região escolhida foi muito
baixa e houver muitos candidatos? E se a família para onde se quer ir não tiver filhos? Ou estarão os
espíritos na sua escolha de reencarnação condicionados pelos índices de natalidade dos diversos povos?
Para o espiritismo a reencarnação é vista como mais uma oportunidade de progresso espiritual e por isso
o espírito escolhe o ambiente mais propício a esse fim. Acontece que a evolução do ambiente por vezes
sofre reviravoltas que o conduzem num caminho que não era previsível quando o espírito fez a escolha.
Imaginemos uma guerra ou grande catástrofe que altere tudo por muito tempo (por vezes mesmo para
além da duração da vida terrena do reencarnado). Se isso ocorrer fica frustrado o objectivo da
reencarnação.
Kardec constrói a reencarnação assente num único pilar: a decisão do espírito sobre a sua vida futura.
Para além de ser uma construção de difícil sustentação, pois atribui a um ser limitado (e cheio de erros)
um poder não condizente com isso, também não leva em consideração a quantidade e o poder das
inúmeras forças que operam no destino de qualquer ser humano quer as determinadas pela natureza
como pelo conjunto de todas as outras decisões humanas que tornam todo este “projecto de
reencarnação” em algo de difícil concretização.
A citação acima referida ainda contém outro aspecto: a da equiparação entre progresso espiritual e
material ou civilizacional. E as duas realidades nada têm a ver uma com a outra.
Enquanto para o espiritismo um espírito superior procura uma civilização superior para reencarnar, pois
seria o seu ambiente, Jesus escolhe os seus discípulos entre os incultos e iletrados. Não optou pela elite
intelectual do seu tempo. A explicação é simples: o espírito não precisa de nada que seja humano para
brilhar e prosperar. Nem sequer de um ser humano, quanto mais da inteligência do mesmo. Recorde-se
que até as pedras podem ser usadas como disse Jesus em resposta aos que pediam que ele silenciasse os
que o aclamavam na entrada em Jerusalém (Lucas 19:40: “Asseguro-vos que se eles se calarem as pedras
clamarão”)
Espírito e matéria visam objectivos contrários. A acumulação de riqueza e conhecimento que suporta uma
civilização próspera é contraproducente para a caminhada espiritual que na orientação de Jesus visa o
desprendimento e a ausência de trunfos humanos. Daí que a sua escolha para apóstolos de seres humanos
destituídos dos requisitos louvados no mundo mostra que tal não só não é necessário como até pode ser
um “tropeço”.
O desenvolvimento humano atrai e prende à Terra; o espiritual liberta e projecta para um Reino fora da
Terra.
Uma apreciação final
O espiritismo é uma construção humana. Fundamenta-se em conhecimentos humanos complementados
por informações do Além. Sabendo que ambos os conhecimentos evoluem, é uma doutrina em
permanente construção. Só por isso é algo que não pode ser tomado por fé, mas por exame. Assim o
espiritismo está afastado de qualquer infalibilidade que normalmente deve acompanhar uma religião.
O cristianismo sendo de origem divina, foi transmitido por Jesus Cristo. Dada a sua origem e o carácter
infalível e por isso imutável do mesmo, deve ser aceite por fé, não dependendo da razão.
As diferenças entre ambas as doutrinas aprofundam-se como o exame mais pormenorizado.
O espiritismo, dada a sua origem humana preocupa-se sobremaneira com a evolução e progresso da
humanidade e dos seres humanos. Dado que se assume como incorporando em si a ciência e alguma
filosofia, não surpreende este apego ao humano. Mais ainda: pretende melhorar o mundo, acrescentando
aos instrumentos humanos a informação recolhida dos espíritos.
Esta sua origem condiciona toda a construção da sua doutrina que retira tudo o que possa contrariar esta
sua preocupação como o progresso humano. A defesa da reencarnação é disso exemplo, pois retirando
divindade a tudo que não seja o próprio Deus, e assumindo a necessidade de salvar todo o ser humano,
o espiritismo apenas poderia conceber uma teoria em que retirasse poderes a Deus e os desse a um ser
humano senhor do seu futuro e totalmente responsável pelo seu destino.
É neste desenvolvimento que por exemplo a ideia de pecado (ou erro) apenas abrange na moral espírita,
o pecado exterior ou feito contra o outro. E daí a importância que dá à caridade. Para ele não existe o
pecado interior, aquele que se manifesta através de pensamentos, intuitos ou desejos.
Também o condicionamento da fé pela razão. É esta que valida aquela. No confronto entre ambas
prevalece para o espiritismo sempre a razão. Exactamente por ser uma doutrina humana.
No espiritismo não existe nada de transcendente. As únicas realidades não visíveis que aceita são a de
existência de espíritos que poderão ser contactados e cujo diálogo pode ser útil para o entendimento de
outra realidade com que todo o ser humano um dia se confrontará. E nesta prática termina a
espiritualidade do espiritismo.
Nunca é assumida uma determinação com origem no próprio Deus. As leis que foram determinadas por
Deus para a criação são as que a ciência vai revelando e que regem a Natureza. Para além dessas
reconhece parte das leis morais cristãs (as que se referem à relação com o próximo) mas como nega a
divindade de Cristo retira-lhe a proveniência divina e considera-as como boas para a humanidade.
Para o espiritismo o homem é o centro de tudo e Deus é apenas uma necessidade racional para explicar
o inexplicável.
No mesmo sentido está o “tratamento” que ele dá a Jesus Cristo. Para o espiritismo Jesus Cristo deixa de
ser divino – Filho de Deus – para ser mais um espírito superior. A negação da divindade de Jesus afasta
decisivamente o espiritismo do cristianismo. Aliás se o espiritismo não aceita a divindade de Jesus e a sua
proveniência do próprio Deus e por Ele enviado à Terra, então considera que Jesus é um enganador e
mentiroso pois assumiu algo que não era. E depois de tal “qualificação” o espiritismo vai municiar-se da
moralidade cristã para preencher a sua doutrina?
Tal construção ideológica nunca poderá ser uma religião.
Vemos o oposto no Cristianismo. É de uma “matriz” totalmente diferente. Embora dirigido ao homem não
depende deste nem para a sua elaboração nem do seu juízo ou aceitação. É transmitido como a Verdade
que deverá aceite ou rejeitada. E a aceitação requer inevitavelmente a fé. O cristianismo não procura
convencer mas vencer. Não aceita nem precisa de colaboração humana na sua construção: é apresentado
pronto e definitivo. O cristão deve após isso divulgar a verdade e não procurar argumentar com a sua
valia.
Há no entanto uma componente que apoia esta verdade: o poder espiritual. Jesus demonstrou-o e através
das curas e milagres permitiu a muitos experimentarem o poder do Reino que lhe era anunciado. As duas
coisas estão ligadas e são inseparáveis. Jesus sempre associou à divulgação da Palavra o exercício de curas
e milagres.
A prática “cristã” dos tempos posteriores afastou-se desta verdade e aproximou-se decisivamente do ser
humano. E a partir daí tudo mudou: o que era certo deixou de o ser, mudaram-se alicerces e fundamentos
e adaptou-se tudo à necessidade do momento. As igrejas assimilaram o mundo e acabaram indistintas
dele. O encanto do dinheiro e do poder acabou por arrastar ainda mais a igreja para o centro do mundo,
transformando a sua doutrina em mais uma aquisição cultural.
O divino desapareceu e apenas subsiste o humano o que permitiu que fosse aceite ou tolerado mesmo
pelos não crentes. Com a sua roupagem humana e por causa disso deixou de ser imutável e passou a
evoluir. Tendências e orientações surgiram no seu meio levando às divisões que caracterizam os negócios
humanos e acabando não raras vezes em carnificinas.
Mas apesar desta evolução negra das igrejas nem assim o espiritismo se aproxima do cristianismo.
Toleram-se apenas, dado se considerarem civilizados. Mas a necessidade que o ser humano tem de Deus
não é satisfeita e o povo continua errante e sem rumo atirado para “explicações” com que as várias
doutrinas humanas procuram saciá-lo.
Resta terminar com uma questão:
Alan Kardec morreu de ataque cardíaco em 1869. Há portanto cerca de 152 anos. Os seus seguidores
esforçaram-se por divulgar a sua obra e escritos. Consideram-no um guia. Mas Kardec - e dado a pessoa
que se trata – criador e defensor do espiritismo a que dedicou a sua vida, não contactou ainda do Além
os seus seguidores? Não lhes deu qualquer informação?
Não deve faltar sintonia entre os seguidores e o próprio, nem falta de vontade de comunicar. Então
porque tal silêncio? Seria uma oportunidade única de alguém que defendeu uma prática quando residente
neste planeta, agora pudesse completar essa informação com dados do Além.
Será que Kardec encontrou uma realidade diferente? Será que afinal entendeu que não há a evolução no
outro mundo que ele descreveu nos seus livros? Será que percebeu que a reencarnação não passa de uma
hipótese académica para completar uma doutrina?