quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Procurando ENTENDER DEUS

     EXALTANDO  O  ÊRRO ?
                             Pr.  Érico  R.  Bussinger
     Para nós, seres humanos, há conceitos na Bíblia que nos são muito difíceis de aceitar. Sempre esses conceitos se referem à “nossa opinião” a respeito do que Deus faz, ou permite.  Até mesmo o ser humano é levado a julgar a Bíblia e querer lhe dar interpretações mais “palatáveis”, ao invés de aceitá-la.  O homem chega a dizer que “Deus não é justo” (Ex.18:25).  Em toda a Bíblia nós vemos um Deus interessado em se revelar à humanidade e até mesmo de lhe expor Suas razões. Algumas vezes até mesmo Deus aceita o confronto com o homem (Sl.2:4).  DEUS É JUSTO. Cremos nisto e o verificamos quando estudamos a fundo as Escrituras.  No entanto, não deixamos de nos estarrecer ante certas coisas que Deus faz.  E cito alguns exemplos a seguir.
     No início do livro de Ester, encontramos Deus movendo as circunstâncias, para que a rainha Vasti fosse rejeitada pelo Rei Assuero. Foi esse o modo que Deus usou para que uma plebéia e cativa pudesse se tornar rainha e assim defender o seu povo judeu.  Para isso Ester contou com a ajuda do seu parente Mordecai, que o que mais fez foi “puxar a brasa para a sua sardinha”, ou seja, utilizar as prerrogativas do seu cargo de 1º.ministro para legislar a favor do “seu povo” judeu, e não para o povo todo do império.  A queda da rainha Vasti se deu em meio a uma festa algo “maluca” e em meio a muita bebedeira.  Sua atitude naquela ocasião é hoje humanamente defensável. Ela se recusou a ir atender à ordem do rei pelas mãos dos eunucos. Provavelmente ela queria que o próprio rei a fosse buscar, já que ela era a sua esposa. Essa atitude foi adjetivada pelos assessores do rei como uma afronta à autoridade real. E isso devido a interesses meramente políticos. E o rei aceitou a argumentação, depondo imediatamente a sua esposa e rainha Vasti.  E foi essa a maneira que Deus na Sua Soberania encontrou para escrever uma outra história, a favor dos judeus.
     No Evangelho de Lucas cap.15 Jesus focaliza o Filho Pródigo, que ao final se torna o alvo de todos os holofotes e comemorações.  Como podemos encaixar em nossa mente e ensinar para nossos filhos que um jovem que agiu totalmente errado e desperdiçou um aparente imenso patrimônio, pudesse ser tão festejado, quando da sua volta?   Em nossa mente mais legalista, no mínimo ele deveria sofrer um tempo de “banco” ao voltar, antes de participar da “vida normal da casa”. Mas não!  O pai, tipificando o próprio Deus, foi ele mesmo receber o filho errado com todas as honras possíveis. E ao filho “fiel” o pai minimizou, apesar de lhe dar a honra de ser “um com o pai”. Como poderia alguém hoje, ensinando a seus filhos “o bom caminho” em que andar, usar a história do filho pródigo?  Mas parece ser esta uma das histórias prediletas de Deus para a evangelização da humanidade.
     A seguir, no cap.16 de Lucas, encontramos a parábola do administrador infiel.  Tendo galgado uma alta posição junto ao seu senhor, tornou-se homem de sua estrita confiança, tanto é que chegou a lhe confiar todos os seus bens, na qualidade de administrador (mordomo).  Sentindo-se muito importante, o administrador começou a se portar de forma muito desonesta, a ponto de ser descoberto. Não querendo humilhar o administrador, o seu senhor lhe deu um “aviso prévio”, com um prazo para que ele apresentasse seu relatório e suas contas, porque seria “despedido”. Como ele já estava na desonestidade, não foi dessa vez que se portou honestamente. De forma coerente com a sua atuação, continuou sendo desonesto, agora não só para si, mas querendo agradar aos credores de seu senhor, visando fazer deles também amigos, para que, quando fosse demitido, ele pudesse encontrar boa acolhida por parte deles. Exatamente por esta razão, é comum no Brasil os empregadores preferirem pagar o aviso prévio a deixar o empregado ainda trabalhando. O potencial de um empregado em “aviso prévio” dar prejuízo à firma ou ao seu empregador é enorme. Basta que ele seja negligente ou desonesto, para, além de contaminar os demais trabalhadores, ainda roubar algo ou mesmo danificar. Por isso, ao demitir alguém, em geral se prefere ver aquela pessoa “o mais longe possível”, logo que se possa.
     Interessante é observar que o próprio senhor do servo o elogiou. Tipificando Deus, aquele senhor reconheceu toda a “esperteza” do servo, aproveitando para tirar lições para nós. Alguém, em certa ocasião, me questionou sobre como poderia Deus elogiar uma atitude tão errada. Até mesmo a lógica de Jesus é um tanto difícil de ser compreendida. Ele elogiou a “coerência” do servo infiel, pois ele não misturou bondade com maldade. Ele foi totalmente mau. E isto nós devemos entender também. Não há vantagens na mornidão espiritual. Ou somos totalmente do Senhor, e nesse caso todas as riquezas materiais (deste mundo) devem estar submissas à nossa missão espiritual (é o dar tudo e negar-se a si próprio). Sem essa atitude, tudo o mais na vida espiritual será vão (Fl.2:16).  Ou se seja frio de vez, amando o mundo e suas riquezas (como aquele administrador infiel). O meio termo (a mornidão) é incoerência e perda.

     Em todas as situações acima vemos realçada a GRAÇA DE DEUS, conceito que só se contrasta com o vil e sujo pecado que tão de perto nos rodeia. Para Deus o bom não serve, mesmo porque não existe. O que realmente Deus quer é nos ver valorizando a Sua GRAÇA. E para Ele, o mais exaltado será aquele que mais baixo se reconhecer, como mais vil pecador (Lc.19:10).  
                  Niterói, 8fev2017