ACERCA DE
GUARDAR DIAS
Pr. Érico Rodolpho
Bussinger
Um dos temas que
certamente têm ocupado grande parte do tempo de cristãos sérios em suas discussões doutrinárias é sem dúvida o assunto da guarda de dias,
principalmente na freqüência semanal, ou
seja, se devemos guardar o sábado ou o domingo. Mas a questão não se restringe à semana. A guarda de dias santificados, como a semana
santa, o natal e outros, ajuda a aumentar a discussão. A base do assunto é sem dúvida o mandamento
de Deus (Ex. 20:8-11), respaldado ainda
em uma constatação prática e científica
de que o homem não pode trabalhar continuamente, sem que daí decorra prejuízo
para a sua saúde física, mental e neuropsicológica.
A modificação de atividades uma vez por semana é uma necessidade, tanto quanto
o repouso noturno. Ainda que não
implique em descanso total, basta que as atividades sejam mudadas, para que já
haja proveito. No mundo ocidental o
repouso semanal já está praticamente institucionalizado, constituindo-se em lei,
na maior parte dos países. Inclusive em alguns deles o período se estende a 2
dias ou mais. Tem havido, no entanto, uma mudança de ênfase, com a evolução das
leis, no sentido de desvincular o assunto da religião, passando a análise para
a área de humanidades.
Reforçado pela existência cada vez maior de atividades nas 24 horas do dia (como
postos de gasolina, polícia, companhias telefônicas, serviços essenciais,
indústrias, vigilância, etc.), o enfoque se volta mais para a necessidade de um
dia de descanso semanal, que em geral coincide com o sábado, ou preferivelmente
o domingo. Mas também já cresce o número
de atividades que usam a 2a.feira como dia de descanso. São aquelas que têm o
"f i m de semana" como dias de intensa movimentação (como restaurantes,
bares, teatro, comércio de praia, cabeleireiros, parques de diversão, atividades
de lazer,etc).
ANALISANDO
Para colocar bem o assunto, devemos começar a
perguntar: é necessário mesmo guardar um dia da semana? Por causa do descanso
ou por uma devoção religiosa? Afinal o que é guardar um dia? O que se pode
fazer nele? Qual o dia correto para se guardar? E quando o emprego exigir trabalhar
no dia de guarda, será isso justificável
ou não? Para quem é a ordem de guardar
um dia: só aos cristãos ou também para
todas as pessoas?
As respostas para todas essas perguntas não e
fácil nem pode ser muito objetiva. A
prova é que até hoje essas questões não foram resolvidas. Os judeus ainda
discutem, depois de milênios, o que se pode comer no sábado, quanto se pode
andar ou que atividades são permitidas. O assunto entrou inclusive pelo
cristianismo a dentro, exigindo do apóstolo Paulo uma definição. Sua posição a
respeito (Rm.14:5,6,13) consiste muito mais em uma orientação de conduta cristã
do que em uma definição legal ou mesmo formal. O próprio Senhor Jesus, que não
negou cumprimento à lei, não "guardou" o sábado como os fariseus do
seu tempo queriam, mas deixou-os perplexos (Mt. 12:1-14 e Mc. 2:23-28). Os cristãos primitivos, que ainda se diziam judeus,
se reuniam freqüentemente no primeiro dia da semana, dia que mais tarde foi chamado
de domingo (At. 20:7). E é bom lembrar, que à época,
e por muito tempo, o primeiro dia era dia de trabalho, equivalente hoje à nossa
2a. feira. Só mais tarde, com a "conversão" do imperador Constantino,
é que o 1o. dia, chamado domingo (que quer dizer DIA DO SENHOR ) foi
oficializado como o dia do repouso semanal e de guarda religiosa. Sua deliberação
é mais do que compreensível: Precisando agradar aos cristãos, instituiu o dia
preferido de suas reuniões em feriado semanal, proibindo o trabalho e assim os
liberando para se reunirem à vontade.
A
INSTITUIÇÃO DO SÁBADO
Reportando-nos à instituição da guarda do sábado,
voltamo-nos para a obra da criação, em que o Senhor Deus trabalhou 6 dias e
descansou no 7o.dia (Gn. 2:2,3). É evidente
que Deus não se cansa (Is. 40:28). A referência ao seu descanso é claramente
figurada, como o é a expressão de Jesus de que seu pai "trabalha até agora..."
(a partir da criação). O 1o. descanso semanal (que não se chamava SÁBADO) foi
um exemplo para uma necessidade de todos os homens (inclusive se constituindo
em um antídoto contra a ganância de trabalhar demais), enquanto a menção ao trabalhar
"até agora" é um alerta a
vigiar sem esmorecer.
De forma bem clara, portanto, sabemos que Deus
instituiu o sábado, que quer dizer DESCANSO, por causa do homem (Mc. 2:27). Não fica bem, então, segundo palavras do
Senhor Jesus, o homem se escravizar ao sábado (ou muito menos ao domingo ou a qualquer
outro dia).
As finalidades de
Deus ao instituir o sábado, foram o descanso e a devoção a Ele, fins
perfeitamente conciliáveis (Ex.20:8-11). Isso Ele o fez no conjunto geral de mandamentos,
chamado LEI. Devemos nos lembrar,
entretanto, de como Deus entregou a Lei. Deus não queria lei, não precisava dela, não a
criou desde o princípio, com as demais coisas e só a deu a pedido de Seu povo, Israel (Ex. 19:8).
Deus mesmo é a LEI. Ele queria e quer que a lei seja melhor
compreendida na comunhão com Ele. Sendo
a lei um padrão de homem ideal que Deus quer, Ele a demonstrou em Seu Filho, a
LEI-VIVA e encarnada. Basta, portanto,
imitar e obedecer a Cristo, para se cumprir a Lei (Gl. 5:14 e Rm. 13:8-10 ). E para não haver dúvidas quanto à interpretação
da Lei, o Senhor nos deu o Seu Espírito Santo, que habita conosco e nos
ensinará tudo o que precisamos saber (Jo. 14:26 e 16:13). Com Ele, o ES, o
cumprimento da Lei se torna possível. (Será que é fácil?)
SIGNIFICADO
ESPIRITUAL
Quando alguém se arrepende e se converte,
Jesus passa a ser o SENHOR de sua vida (Mc. 8:34), dono de todo o seu tempo.
Nesse caso, todos os 7 dias da semana serão consagrados, ao contrário de um
só. As finanças serão entregues ao
Senhor totalmente, ao contrário de apenas o dízimo. Sendo assim, perde todo o sentido a noção de
um dia semanal de guarda. É óbvio,
então, que se já temos o domingo, no mundo ocidental, como o dia preferido de
descanso, que seja este também o dia de nossas mais intensas atividades religiosas.
E por atividades religiosas queremos nos referir ao que é mais puro, a prática
da religião verdadeira (Tg.1:27) e não somente a execução de reuniões, o que é
possível fazer em qualquer dia. Caso seja o sábado, ou a 2a. feira ou outro
qualquer, o nosso dia de descanso, façamos o mesmo. Descanso das atividades
rotineiras e seculares, sim. Mas trabalho em atividades espirituais, também
sim.
Se este padrão de
verdadeira submissão ao senhorio de Cristo é alto demais, um simulacro de
religião farisaica, guardando dias (Is. 1:13, 14 e Rm.14:5,6), não será melhor
solução, a menos que se queira anular a graça de Cristo (Gl.2:21), aquele tão alto preço por que fomos comprados.
APLICAÇÕES
1)
A
necessidade de um dia semanal de descanso, bem como de férias periódicas é um fato e
reconhecido por Deus. O seu cumprimento nos faz bem em todos os sentidos e se
constitui em um antídoto contra a ganância (Sl.127:1,2 e Rm. 4: 5)
2) O padrão de homem que Deus quer é Jesus, de
quem a Lei é uma pálida descrição, em linguagem "humana". Quem é perfeito em
Cristo cumpre toda a lei. E dedicando todos os dias ao Senhor, qualquer dia
específico estará guardado tem bem.
3) Não
podemos condenar quem quer que seja pela guarda de dias, ou pela falha em
guardá-los (Rm.14:5,6).
4) Quem
não tem a Jesus corno Senhor total de sua vida e não é dirigido pelo ES,
certamente que já está em pecado, em algum ponto da Lei, independente de guardar dias.
5) A
verdadeira guarda de dias se cumpre na devoção pessoal ao Senhor e na prática
da religião verdadeira, atendendo às necessidades das pessoas carentes e se
santificando para Deus (Tg. 1:27).
6) Devemos
usar a sabedoria e aproveitar os dias da melhor maneira possível. Por exemplo,
para evangelizar pessoas, os melhores dias costumam ser de 2a. a 6a. feira,
enquanto elas estão absortas em seu trabalho. Para reuniões de consagração e
culto a Deus, os dias de descanso e feriados são os mais apropriados, pois a
disposição física contribui.
Que você honre ao Senhor, não permitindo que sua consciência seja acusada não pelo Senhor!