O VINHO VELHO É MELHOR
Pr. Érico Rodolpho Bussinger
Tem sido corrente no meio evangélico a exaltação do vinho novo. Em
detrimento do vinho velho, é claro. Como esta é uma linguagem figurada, fazendo
parte de uma parábola, há-se necessariamente
que interpretar o sentido do
que o Mestre nos quer ensinar.
A parábola é contada nos 3 evangelhos sinóticos (Mateus,Marcos e Lucas),
com alguma conotação diferente em cada um deles. E esta parábola vem após a
parábola das vestes, dando a entender o Senhor que era para reforçar a lição, a mesma em ambas.
Na parábola da veste Jesus cita uma aparente obviedade: "ninguém
tira parte de uma veste nova para remendar o rasgo de uma veste velha". Por que? Em Lc.5:36 a lição mostra que vai-se "estragar" uma veste nova,
fazendo um serviço de pouca serventia em uma veste já velha e supostamente
poída, apodrecida. Em Mt.9:16 não há
referência a qual veste se refere, mas enfatiza o desperdício vão. Em Mc.2:21 a
referência é à veste velha, igualmente enfatizando o trabalho perdido.
A incoerência está no desperdício.
E a lição é a de que o que é novo tem que ser tratado como tal. E o que é
velho, se quiser ser aproveitado, deve sê-lo dentro de suas limitações. Por
ex., ninguém vestirá uma veste velha para ir a uma festa.
O assunto em tela, trazido pelos fariseus, se referia ao jejum. O Senhor não minimizou a importância do
jejum. Mas apenas afirmou que há circunstâncias apropriadas em que se deve
fazer jejuns: Em geral em situações
difíceis e de necessidades. Mas fazer jejuns apenas como parte de uma
prática religiosa, como que para aumentar os "créditos" de uma pessoa
junto a Deus, seria inócuo, uma verdadeira perda. Isso porque não somos justificados
perante Deus pelas obras que fazemos (Rm.3:20). O jejum fazia parte da
"velha" prática religiosa e simplesmente fazê-lo não redundaria em
salvação (o grande assunto do Evangelho).
A parábola do vinho, aproveitando o ensejo da parábola das vestes,
igualmente mostra quão inapropriado é
querer guardar vinho novo em odres velhos, porque ainda se fermenta e gera
gases que pressionam o recipiente. Os odres, segundo entendidos, eram os
vasilhames feitos de couro ou peles costuradas de animais, para se guardar
líquidos. Quando velhos, as peles ficavam ressecadas e portanto fragilizadas,
não suportando aumento da pressão interna. Eles se rompem, como uma garrafa de
refrigerante guardada no congelador.
O entendimento mais usual no meio evangélico é o de que o vinho novo
significa uma vida "nova" ou renovada. Muitas vezes a referência é à
vida no espírito, em contraste com a secura da vida religiosa tradicional (de
qualquer tradição cristã). Por vezes se dá ao vinho novo a idéia de uma mentalidade
aberta e jovial, portanto mais tolerante e contextualizada à época atual. E
evidentemente, se entende que isto é melhor!
Mas o que o Senhor Jesus mostrou em Mt.9:17, em Mc.2:22 e Lc.5:37,38 foi
que devemos ter cuidado com o vinho
novo, para não perdê-lo. Eu entendo
que todo cuidado nessa direção visa aproveitar na igreja a mão de obra, o
trabalho e a animação jovem. Nem sempre muito aperfeiçoada.(Jovens, eu vos
escrevi porque sois fortes...1Jo.2:14). Afinal, dizem os entendidos, o vinho
novo não é muito bom. O vinho de maior
valor ( por ser melhor) é o velho. Mas nas igrejas de hoje e em todo o meio
evangélico, em geral, se tem o vinho novo como melhor. E em muitas igrejas de
nossos dias é somente o vinho novo que
se prega e que se canta (qual igreja evangélica de nossos dias não tem lá
na frente bateria, guitarra e contra-baixo?). E inclusive para exercer a liderança, em muitas igrejas e comunidades
evangélicas, sempre se prezou pelo "novo" (que em nossos dias já está
ficando velho também).
Mas em Lc.5:39 vem a lição mais
importante, embora não como mandamento (analise e entenda), que é a opinião pessoal do Senhor Jesus:
"o vinho velho é melhor". Ele é excelente!
Isso significa que a experiência
tem um valor inestimável na vida espiritual. O elemento jovem tem a força (da
fermentação do vinho novo), mas o
envelhecido tem a experiência e a sabedoria. Eu ouvi alguém dizer que o
diabo não é perigoso pelo fato de ser mau, mas pelo fato de ser velho (sabe
tudo). E também não é sem sentido que o
Senhor estabeleceu como líderes na igreja
os "anciãos". O mesmo Ele fez nas cidades de Israel
também.
Em conclusão, é bom ter cuidado e tolerância para com o "vinho
novo". A finalidade é para não perdê-lo. Mas nunca trocá-lo pelo vinho
velho, que é melhor (veredas antigas...). O bom é não perder o "vinho
novo", porque um dia ele também ficará velho e excelente também.
Paz!