quinta-feira, 17 de maio de 2018

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Algum “influencer” tomou o lugar do seu pastor?

por Alex Esteves


     Algum "influencer" tomou o lugar do seu pastor?
   
          Influenciadores digitais, também conhecidos como influencers, são formadores de opinião, pessoas que influenciam (daí o nome) por meio das redes e mídias sociais (Facebook, Youtube, Instagram, Twitter, entre outras). Seu apelo é mais forte entre jovens e adolescentes, segmento que anda sempre conectado, e que, em razão do seu estágio de desenvolvimento, se torna mais vulnerável ao “novo”, bem como a discursos e estilos alternativos.
     Existem hoje no Youtube canais evangélicos amplamente seguidos, assim como páginas do Facebook, contas do Twitter, fontes de informação (ou desinformação) com os quais o espectador acaba se envolvendo intensamente, e de onde extrai elementos para construir seu sistema de crenças, seu conjunto de princípios, valores e ideias – enfim, sua cosmovisão.
     É um dado da experiência a adesão de muitos crentes a influenciadores digitais os mais diversos, entre os quais se acha de tudo: bons téologos e líderes de igreja, meros especuladores, celebridades do movimento gospel, militantes esquerdistas disfarçados de pastores, comediantes que pensam ser pregadores, adolescentes que já se julgam aptos a orientar multidões, falsos mestres que ganham seguidores fomentando dúvidas quanto à autenticidade da Bíblia – a lista é grande e diversificada.
     Se, por um lado, as redes sociais contribuem muitíssimo para que se democratize a comunicação, não se pode negar um estado de franca desorientação de tantos e tantos usuários – lembre-se, caro leitor, de que estamos na Era da Informação, não na Era do Conhecimento. Além da dificuldade de compreender e discernir a origem, conteúdo e implicações do que é informado, muitos acabam reunindo, no mesmo repertório, ideias que se contradizem.
     Algumas das características da Era Pós-moderna são a falta de pertencimento, a fragmentação das relações sociais e institucionais, o pluralismo religioso e religiosidade sem religião. O Homem Pós-Moderno não acredita na verdade absoluta, e, diante de tantas possibilidades morais, filosóficas e religiosas, prefere agarrar-se ao dogma da tolerância, para não morrer de radicalismo ou de confusão mental. Nesse contexto, a internet exerce um papel fundamental na configuração de um mundo em que todos têm voz (até os idiotas), e em que sujeitos imaturos ou malignos passam a ser vistos como verdadeiros mestres para a vida.
     O relativismo ético, outro aspecto da pós-modernidade, adentra ao meio cristão com um discurso agradável de abertura e tolerância, um libelo contra a hipocrisia e o formalismo religioso – quem pode ser contra esta maravilhosa bandeira? – para, logo em seguida, plantar a semente do desprezo ao compromisso institucional, à autoridade pastoral e à hierarquia eclesiástica, passos céleres com destino à relativização da doutrina. E é isso o que alguns youtubers andam espalhando por meio de vídeos bem editados e uma promessa subjacente de despertamento de consciência.
     Em geral, o pastor de igreja prega e ensina por pouco tempo durante a semana, mas os influenciadores digitais, sempre a postos em vídeos, “textões” ou mensagens curtas, estão dominando mentes mais ou menos vulneráveis, mais ou menos críticas, mais ou menos amadurecidas.
     O crente multiconectado e multi-influenciado pode até estar fisicamente no culto, mas sua alma talvez esteja sob o “pastoreio” de algum mentor virtual. Criam-se, desse modo, diversas “tribos” dentro da mesma igreja, sem coesão doutrinária, sem teologia definida, sem conhecimento bíblico sistemático, sem identidade, sem firmeza na fé e sem verdadeira comunhão.
     O Ocidente vive um momento de crise de autoridade, o que, como reflexo do espírito da época, envolve todas as dimensões da vida: espiritual, familiar, social, religiosa, política, internacional. Ilude-se, porém, aquele que pensa estar totalmente livre quando rejeita as autoridades tradicionais.
     No caso do mundo evangélico, é possível que as consciências “emancipadas” pelo pluralismo virtual estejam apenas substituindo a autoridade do pastor (e das Escrituras) pelas opiniões de alguém cuja voz foi ampliada pelas redes, mas que não compartilha da fé herdada do cristianismo histórico e ortodoxo.
     O leitor consegue aquilatar o tamanho desse perigo?