TEMEI A DEUS, HONRAI AO REI (1Pe.2:17)
Pr. Érico R. Bussinger
Eu me lembro do Reverendo Oliver Thomson,
descrevendo em sua infância a visita do Rei (o rei da Inglaterra) à sua terra,
a Escócia. Era o maior acontecimento que
poderia haver. Tudo parava. O respeito
era tanto, que as pessoas se emocionavam quando da aproximação do soberano. Até
o seu cavalo era respeitado. As crianças ficavam felizes como se tivessem
presenciado a aparição do Cometa Halley. Ninguém
ousava falar mal do seu rei. O respeito era profundo, geral e espontâneo. A
alegria era incontida. E por muito tempo, não se falava em outra coisa, tal era
a impressão que a presença do rei transmitia. E tudo isso só pelo fato dele ser REI, independente da sua atuação
no governo (naquela época o rei ainda reinava).
No Brasil nós desconhecemos qualquer sentimento semelhante, por qualquer pessoa que seja, o que nos dificulta imaginarmos a impressão daquele quadro. Não há um brasileiro sequer, na atualidade, que desperte qualquer sentimento unânime, pelo menos de respeito. O único que conheci só o conseguiu depois de morto (Tancredo Neves). E rei mesmo, só de brincadeira, o “rei Pelé”, o “rei Roberto Carlos”, o “Rei Momo”, e outros.
No meu entender, isso é mau: muito mau
mesmo! Se cremos que foi Deus quem “instituiu” toda “autoridade” (Romanos 13:1),
cujo respeito aponta para a reverência ao próprio Deus (Romanos 13:5-6), então
entendo eu que a falta de sensibilidade
para com a “AUTORIDADE”, como enfatiza muito bem Watchman Nee, é um sinal evidente
da degradação moral e espiritual de um povo, uma geração, ou mesmo uma
nação.
Para mim, essa semente de desrespeito à autoridade, é antiga. No Éden, Satanás já fazia cócegas nos ouvidos da Eva, contra a autoridade de Deus e de Sua palavra. Os gregos se encarregaram de exacerbar, mais tarde, a ênfase no humanismo antropocêntrico. E a revolução francesa, abraçando os ideais do Renascimento, se encarregou de estabelecer definitivamente a “democracia”, solapando de uma vez por todas o fundamento da autoridade, soberania e privilégio dos governantes, que a partir de então, teriam que tirar o chapéu para os seus súditos, e não mais o contrário. Rei, dali por diante, só como decoração, para incentivar o turismo, como é comum na Europa!
Se o “rei” não é mais honrado (1 Pedro
2:17), também Deus não é mais temido. E do pecado se ri. É o que eu vejo em
nossos dias, principalmente no Brasil. Se alguém quer ser difamado, criticado e
desrespeitado, basta exercer alguma função de destaque ou de comando.
Onde ficará, então, o nosso testemunho, como cristãos? Vamos nos unir ao coro dos demais, ou demonstraremos um padrão diferente?
Será que o nosso testemunho pode ser
coerente, apesar de “não honrarmos o rei”? Ou seja, se os cristãos falam
mal da autoridade, como vão evangelizar, chamar os pecadores para debaixo da
autoridade de Jesus? E onde ficará nossa unidade como corpo, condição “sine qua non” para que o
mundo creia que Jesus foi enviado pelo Pai (João 17:21)? Unidade, sim, porque
onde não há respeito e submissão aos líderes (pastores), não pode haver o sentimento de corpo, um dos maiores trunfos do
cristianismo, justamente o que o distingue, na prática, das demais religiões.
Os cristãos não podem desprezar a sua
melhor estratégia para se alcançar a meta de “que todo homem chegue ao
conhecimento da verdade” 1 Timóteo 2:4, que é justamente INFLUENCIAR os GOVERNANTES (1 Timóteo 2:1-3). Como diz o texto,
“isso é bom e agradável a Deus”, e, no entender do apóstolo Paulo, digno de
toda prioridade (antes de tudo, do verso 1). Em outras palavras, começar “por
cima” costuma ser melhor do que “por baixo”. Em termos de estratégia, isso é o
que é bom, aos olhos de Deus. Mas, por
que, então, aos Seus olhos, influenciar o “rei” é tão mais prioritário?
Porque, entendo eu, Deus sabe (e é Ele mesmo quem os estabelece) que em toda nação, independente do sistema do governo,
sempre há aquela “meia dúzia” de pessoas, às vezes, 3 ou 4, que de fato, detém
a maior parcela de poder. Esses, no meu entender, são o “rei” de
fato. E, ganhando-os, toda a nação será abençoada (não necessariamente
evangelizada). Mas a evangelização será, a partir daí, muito mais efetiva, e
frutífera. Lembremo-nos do exemplo de Daniel, de Ester, de José do Egito, e de
tantos outros, que exemplificam muito bem essa estratégia. No Brasil, na época
do Regime Militar, os evangélicos exerceram uma grande influência sobre os
Presidentes militares e, em conseqüência, o Evangelho teve um crescimento
vertiginoso.
Sejamos sensíveis à questão da autoridade; e a nossa semeadura será mais proveitosa.
E honremos o “rei”, ou seja, toda autoridade constituída,
na nação ou na igreja. O nosso temor a
Deus ficará mais fácil. A nossa colheita, então, será mais abundante.