UMA INTRODUÇÃO AO
DISCIPULADO CRISTÃO
Pr.
Érico Rodolpho Bussinger
Há uma palavra nas escrituras que nos deixa maravilhados. É o capítulo
25 de 1º Crônicas. O versículo 6 resume a beleza daquele quadro, quando afirma
que todos os músicos e cantores estavam sob a direção respectiva de seus pais,
Asafe, Hemã e Jedutum, e estes sob as ordens do rei Davi. Que segredo havia
naquelas famílias, para conseguir aquela submissão espontânea, pois que da qual
se exigia harmonia e dedicação? E não há dúvida de que todos estavam em comunhão
íntima com Deus, a ponto de profetizarem com harpas (v.3), terem visões
espirituais (v.5), estarem aprovados, e serem constituídos alvos de promessas
especiais de Deus. O grau de harmonia entre aquele grupo era tão grande, que se
consideravam iguais entre si, a ponto de se submeterem todos a um sorteio comum
que lhes designaria os deveres (v. 8), independentemente de hierarquia ou
privilégios especiais.
A explicação para esse tão tocante exemplo está no v. 8, o tipo de relacionamento que cultivavam – O DISCIPULADO. Mestre e discípulo eram iguais nos deveres, mas respeitosos na submissão (v.6).
O DISCIPULADO é, pois, um tipo de relacionamento que gera uma submissão
espiritual desejável. Davi era o chefe daquele grupo que se compunha de 286
músicos, certamente não por ser rei, mas pelas suas qualidades. A submissão do
discípulo ao seu mestre não se dá numa base formal, antes, porém, se baseia na
autoridade espiritual do mestre, e no reconhecimento dessa autoridade por parte
do discípulo.
A ligação mestre e discípulo se
baseia na diferença de espiritualidade entre um e outro, e onde há um
compromisso de aliança entre ambos.
A vida e o ministério de Jesus sobre a terra foram um exemplo insofismável do discipulado, bem como o método de trabalho do apóstolo Paulo. Em seu livro intitulado em Português “O PLANO MESTRE DE EVANGELISMO”, Robert E. Coleman analisa com extrema felicidade o ministério terreno do Senhor, e estabelece os 8 princípios do discipulado cristão, o que deveria merecer a atenção de todo cristão sério, bem como de todo líder evangélico.
Ao partir, o Senhor deixou-nos a ordem clara: “ Ide por todo o mundo e
fazei discípulos...” O IDE é inseparável
do FAZER DISCÍPULOS. É impossível
fazer discípulos somente esperando por eles, como é inútil ir pregar sem uma
condição mínima para consolidar os resultados alcançados. Seria como que
semear apenas à beira do caminho, esperando que Satanás não roube a semente
lançada. Ou como continuar pescando em alto mar com o barco a pique.
O fazer discípulos é, pois, em primeiro lugar, a ordem máxima do
cristianismo.
Ocorre, porém, em nossos dias, uma confusão perigosa entre o IDE e o VINDE. Parece que a tendência geral entre os cristãos mais sinceros é de enviar obreiros para pregar aos incrédulos, para depois trazê-los (para a sua Igreja). A atitude atual parece ser, pois: “ide e depois vinde”; como se não se cresse no poder do Senhor, para dizer: “ide, ficai, crescei, multiplicai-vos.”
Novamente em Israel encontramos esclarecimentos adicionais sobre esse
assunto. Foi o próprio Senhor quem ordenou aos filhos de Israel que viessem
todos ao templo três vezes por ano (Êxodo 34.23). Quando, porém os israelitas
se acampavam, cada um deveria fazê-lo, não no lugar que achasse melhor, mas sob
o seu respectivo estandarte, e todos ao
redor da tenda da congregação. Cada tribo (cada grupo) com seu príncipe,
segundo sua família, a casa de seu pai (Nm 2.2). Isso era necessário para que
houvesse ordem entre todo aquele grande povo. O discipulado tem como uma de suas finalidades o arregimentar um
grande número de pessoas, guardando uma necessária unidade de ação. Este ideal é praticamente
impossível de ser alcançado com um
governo frouxo e destituído de discipulado. Os príncipes de cada tribo
desempenhavam um papel muito importante no governo civil em Israel, mas não no
culto a Deus. Cada príncipe era o filho mais velho do príncipe anterior, e
sendo assim, em questão de ordem, todos da tribo lhe deviam obediência.
Em Números 10 se estabelece a instituição das trombetas, que deveriam ser tocadas pelos sacerdotes. Elas eram o meio de comunicação rápida entre os líderes e o seu povo, fator de arregimentação. Os toques das trombetas se dirigiam ora só aos príncipes (v. 4), ora a toda a congregação (v.3). Tocavam na guerra (v.9) e nas festas (v.10). Ao tocarem, todos os discípulos deveriam dirigir-se aos respectivos “mestres” ou chefes. E assim todo o povo atenderia a uma só ordem. Que maravilha! Ficamos admirados.
Nas passagens acima percebemos claramente duas tendências: a centralização e a descentralização. A
organização da Igreja inclui esses dois movimentos distintos, reconhecidos em
suas respectivas áreas. O governo eficiente e participativo exige a
descentralização. E para tanto, nada melhor do que o discipulado, para se
garantir a unidade de um corpo que cresce. Mas o culto a Deus e a unidade de
ação dependem fundamentalmente da centralização de decisões e de orientação. Da
mesma maneira, nada melhor do que o discipulado, que é a única forma possível
de garantir a obediência às ordens divinas, havendo a necessária
descentralização, para o governo eficiente.
Podemos, portanto, afirmar que a vontade de Deus na Igreja é a
centralização para o culto, e a descentralização no governo e na ação.
O QUE É DISCIPULADO
Para Moisés, o conselho do sogro, de escolher anciãos que com ele
dividissem a responsabilidade sobre o povo (Êxodo 18. 21-26) teve o respaldo
divino (Números 11.16), de forma que entendemos ser a delegação de
responsabilidades bem vista aos olhos de Deus. O próprio governo do Rei Jesus
adotará esse tipo de organização, quando uns receberão autoridade sobre 5
cidades, outros sobre 10 e assim por diante (Lc 19. 17-19). Quanto a Israel, a
organização do povo era bem clara (Dt 1. 13-15). Havia chefes de 1000, de 100,
de 50, e de 10. Os príncipes de cada tribo eram os chefes de seus milhares. Não
há dúvida de que o chefe de 50 tinha autoridade sobre 5 chefes de 10, em geral
de sua família. Dessa forma as ordens de Deus aos líderes eram facilmente
cumpridas por todos. Essa organização era bem tipicamente militar. Presumia a hierarquia
e a disciplina. Qualquer rebelião aos chefes de família era ensejo de
aplicação da lei marcial (a morte). Assim, os chefes eram obedecidos
rigorosamente. E nada menos que isso poderia ser tolerado na intenção de manter
firme a unidade de comando em todo o Israel. O próprio Deus aprovava essa
organização militar e era chamado muitas vezes de “Senhor dos Exércitos”.
O discipulado, como opção de organização se opõe à democracia, na qual todos têm, perante a lei, igual direito de opinar sobre as decisões gerais. No discipulado as ordens vêm de cima. Na democracia as determinações provêm da maioria. Quem quiser, no sistema democrático, ter autoridade, deve fazer suas idéias conhecidas e influenciar o povo a apoiá-las, e com base nesse apoio recebido, tomar as deliberações cabíveis. Coré , Datã e Abirão não se conformaram com o sistema de governo e quiseram mudá-lo, via método democrático (Nm. 16). Arregimentaram o povo que com eles concordava e partiram para a ação. O resultado que colheram foi o juízo de Deus e a morte.
No discipulado parte-se do princípio de que as ordens vêm de Deus,
através dos presbíteros (líderes), que são constituídos em autoridade máxima na
localidade. Cada um deles repassa a orientação aos discípulos sob sua
influência, e assim por diante, até que todo o povo tome conhecimento e obedeça
às ordens recebidas. Não há lugar para discutir a validade das ordens. É
possível discutir-se a forma de sua melhor aplicação, mas nunca a conveniência
de seu cumprimento. À semelhança de Coré, Datã e Abirão, seria isso uma
afronta a Deus e aos seus ungidos.
A diferença básica entre o regime militar ou a organização israelita, e o discipulado cristão, é que, naqueles sistemas, os chefes são designados, nomeados ou estabelecidos, enquanto no discipulado o discípulo se submete espontaneamente ao seu mestre, pelo reconhecimento nele da autoridade divina. E assim, no discipulado não há tensões, ou motivos para rebelião e insatisfação. Qualquer incompreensão que haja é explicada por quem tem autoridade e assim facilmente compreendida. Em caso de disciplina ela é aplicada com amor, podendo alcançar resultados positivos.
O discipulado permite ainda o melhor conhecimento das necessidades dos
santos, bem como uma mais equilibrada divisão do trabalho na comunidade. O
resultado total é um maior proveito por parte de todos, bem como uma maior
potência evangelística e missionária na Igreja. Isso porque serão muitos mais a
trabalhar na mesma direção.
Amém. Vamos entender... e praticar.
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