A Holanda constatou ter sido um grande erro legalizar a maconha e a prostituição e iniciou ações de reparação dos danos. E aqui no Brasil tem gente fazendo passeata pela legalização dessa droga. A seguir, uma matéria da revista Veja (2008), escrita por Thomas Favaro, detalha esse engano: “A Holanda é um dos países mais liberais da Europa. Comportamentos considerados tabu em muitos países, como eutanásia, casamento gay, aborto e prostituição, são legalmente aceitos pelos holandeses. Em Amsterdã, turistas podem comprar pequenas quantidades de maconha em bares especiais, os coffee shops, e escolher abertamente prostitutas expostas em vitrines, uma tradição da cidade. No passado, De Wallen, o bairro da Luz Vermelha, como é chamado nos guias turísticos, foi relativamente tranquilo e apinhado de curiosos. Desde que a prostituição foi legalizada, sete anos atrás, tudo mudou. Os restaurantes elegantes e o comércio de luxo que havia nas proximidades foram substituídos por hotéis e bares baratos. A região do De Wallen afundou num tal processo de degradação e criminalidade que o governo municipal tomou a decisão de colocar um basta.
Desde o início deste ano, as licenças
de alguns dos bordéis mais famosos da cidade foram revogadas. Os coffee
shops já não podem vender bebidas alcoólicas nem cogumelos alucinógenos, e uma
lei que tramita no Parlamento pretende proibi-los de funcionar a menos de 200
metros das escolas. Ao custo de 25 milhões de euros, o governo municipal
comprou os imóveis que abrigavam dezoito prostíbulos. Os prédios foram
reformados e as vitrines agora acolhem galerias de arte, ateliês de design e lojas
de artigos de luxo. A prefeitura está investindo na remodelação do bairro, para
atrair turistas mais ricos e bem-comportados.
De Wallen é um centro de bordéis desde
o século 17, quando a Holanda era uma potência naval e Amsterdã importava
cortesãs da França e da Bélgica. Nos últimos vinte anos, a gerência dos
prostíbulos saiu das mãos de velhas cafetinas holandesas para as de obscuras
figuras do Leste Europeu, envolvidas em lavagem de dinheiro e tráfico de
mulheres. Boa parte dos problemas é consequência do excesso de liberalidade.
O objetivo da legalização da
prostituição foi dar maior segurança às mulheres. Como efeito colateral houve a
explosão no número de bordéis e o aumento na demanda por prostitutas. Elas
passaram a ser trazidas – nem sempre voluntariamente – das regiões mais pobres,
como África, América Latina e o Leste Europeu.
A tolerância em relação à maconha,
iniciada nos anos 70, criou dois paradoxos. O primeiro decorre do fato de que
os bares podem vender até 5 gramas de maconha por consumidor, mas o plantio e a
importação da droga continuam proibidos. Ou seja, foi um incentivo ao
narcotráfico.
O objetivo da descriminalização da
maconha era diminuir o consumo de drogas pesadas. Supunham os holandeses que a
compra aberta tornaria desnecessário recorrer ao traficante, que em geral acaba
por oferecer outras drogas. Deu certo em parte. Apenas três em cada mil
holandeses fazem uso de drogas pesadas, menos da metade da média da Inglaterra,
da Itália e da Dinamarca. O problema é que Amsterdã, com seus coffee
shops, atrai “turistas da droga” dispostos a
consumir de tudo, não apenas maconha. Isso fez proliferar o narcotráfico nas
ruas do bairro boêmio. O preço da cocaína, da heroína e do ecstasy na capital
holandesa está entre os mais baixos da Europa.
“Hoje, a população está descontente com
essas medidas liberais, pois elas criaram uma expectativa ingênua de que a
legalização manteria os grupos criminosos longe dessas atividades”, disse a Veja (2008)
o criminologista holandês Dirk Korf, da Universidade de Amsterdã.
A experiência holandesa não é a única
na Europa. Zurique, na Suíça, também precisou dar marcha a ré na tolerância com
as drogas e a prostituição. O bairro de Langstrasse, onde as autoridades
toleravam bordéis e o uso aberto de drogas, tornara-se território sob controle
do crime organizado.
A prefeitura coibiu o uso público de
drogas, impôs regras mais rígidas à prostituição e comprou os prédios dos
prostíbulos, transformando-os em imóveis residenciais para estudantes. A
reforma atraiu cinemas e bares da moda para o bairro. Em Copenhague, na
Dinamarca, as autoridades fecharam o cerco ao Christiania, o bairro ocupado por
uma comunidade alternativa desde 1971. A venda de maconha era feita em feiras
ao ar livre e tolerada pelos moradores e autoridades, até que, em 2003, a
polícia passou a reprimir o tráfico de drogas no bairro. Em todas essas
cidades, a tolerância em relação às drogas e ao crime organizado perdeu a aura
de modernidade.
Nota: Não
existe jeito certo de fazer a coisa errada. E o pior é querer imitar aquilo que
já se provou um erro. [MB]
Nenhum comentário:
Postar um comentário